Armando Bernardini, mais conhecido como Neno, nasceu em Neves Paulista em agosto de 1928. Ficou por pouco tempo até chegar em Nhandeara, em 1931, inclusive é apenas três anos mais novo que a cidade.
Seu pai era da Itália, homem trabalhador. “Ele tocou café por três anos em Neves Paulista, aí comprou 20 alqueires aqui. Viemos para cá e fui picado por uma cobra urutu cruzeiro, acabei perdendo o dedo”, conta.
Ele conta histórias em que viveu na época de trabalho. “Íamos buscar telha em Nova Luzitânia com carro de boi com oito bois, mas os outros que faziam as cargas para mim. Trabalhamos demais. Trabalhava muito na área rural, com leite, café, levantava as 03h30, tirava mais de 200 litros de leite”, afirma.
Não frequentou a escola e também não teve leitura. “Tinha o senhor com leitura, ficava lá pelejando o alfabeto, fazia continha”.
Para fazer compra enfrentava uma maratona. “Tinha jardineira que ia levar para fazer compra em Monte Aprazível, não era fácil não”. Quando os problemas de saúde chegavam, eram mais dificuldades. “Não tinha médico, doutor, farmácia. Éramos tudo criado no cru mesmo. Aí veio o primeiro doutor e quando alguém ficava doente o doutor montava a cavalo e outro vinha puxando, quando chegava lá o doente tinha sarado ou morrido porque demorava muito”.
Ele ainda diz que naquele tempo ao invés da cadeira, faziam captura.
Lembra-se também da construção da primeira capela. “Quando tinha 7 anos fizeram uma igrejinha e a nona dizia pra eu ir a pé com ela assistir à missa, aquela torre que hoje vemos era uma cruz com lata e uma corda para tocar o sino. Quando acontecia os casamentos, eram todos acompanhados a cavalo. Atrás da igreja tinha um campo de futebol”, diz.
Neno fala sobre um desentendimento que teve com o pai. “Eu era novo, saía com os companheiros, ele nunca deu um tapa em mim, mas dizia se vocês brigarem chegam em casa e apanha. Voltei pra casa e falei para eles (pai e mãe) que não estava certo porque chamou a atenção na frente dos outros e jurei nunca mais pisar o pé em baile”.
Casou-se aos 19 anos com Aparecida Prata Bernardini (in memoriam), tiveram três filhos, Genir Bernardini, Nivaldo Bernardini e Valter Bernardini, quatro netos e um bisneto.
Começou a investir dinheiro em gado, vendia uma novilha grande e comprava duas ou três pequenas, após dois anos e meio comprava terra. “Nunca devi nada a ninguém. Tinha seis propriedades. Uma delas é que está instalado o Pesqueiro Bernardini, de propriedade de sua filha e genro. Dá um movimento muito bom de domingo depois do meio dia, tudo muito bem organizado”, disse.
Mesmo com a idade, Neno lembra com clareza da história política de Nhandeara. Nos disse os nomes dos prefeitos que passaram por aqui. Ele também fala do amor a terra. “Lugar muito bom demais Nhandeara. A gente sabia que um dia ia chegar nesse ponto, ser evoluída. Gosto muito daqui”, finaliza.