Lazaro Alvino Rocha nasceu em 16 de julho de 1934 em Gastão Vidigal. Chegou com a família em Nova Luzitânia quando tinha apenas 1 ano.
“Nós viemos para o sítio, lá nós moíamos cana, fazia rapadura e tinha carro de boi para ir na cidade. Era um trabalho porque utilizávamos quando fosse trazer as coisas de Macaubal. A viagem durava uns dois dias. Posava em Monções, na pedreira, soltava os bois lá e naquele temo não tinha cerca”, conta Rocha.
Para estudar também não foi fácil. Ia até Gastão Vidigal a pé, andava pelo menos 12 km isso com 12 anos de idade. “Do nosso grupo era o que morava mais longe então saía e ia passando em outras propriedades no caminho e a turma toda ia a pé, muitas vezes corríamos na frente de vaca naquele serrado. Tinha um professor que dava aula pra nós, mas não consegui aprender muito. A nossa merenda na escola era aquelas frutinhas de figueira, subíamos no pé e ia pegando aquelas bolinhas pretas para comer. Nosso futebol era jogado com laranjas de fazer doce, acho que nem existe mais aqui, quando saía para o recreio pegava a laranja daquele tamanho e jogava, até começarmos a fazer bola de meia, que durava mais. Estudávamos em uma “tuia”, espécie de depósito da época. Nossas carteiras eram um banco de lá e outro de cá e aquelas tábuas apoiadas no meio, as meninas em um canto e os meninos de outros. Nossos livros eram cartilha, primeiro, segundo e terceiro livro, depois vinha o manuscrito, que era quando você terminava as aulas e estudasse o manuscrito já estava perfeito para dar até aula, era como uma faculdade”, lembra ele.
Sempre que chegava da escola, tinha que ir para a roça. Trabalhou muito no sítio de seu padrasto. “Levantava as 4 horas da manhã para moer cana, fazer rapadura, cedo tirava leite, desnatava e tirava o creme, também passava veneno na plantação de algodão. Nosso colchão era de palha, a coberta era feita de algodão desfiado com uma máquina de meu pai. Água nós tirávamos no poço, com sapo e tudo. Tirávamos o sapo e bebia a água. Não tinha energia, tinha lamparina a querosene. Hoje acaba a energia e o povo fica todo doido e ninguém consegue fazer nada. Naquele tempo as mulheres até costuravam no escuro, andávamos para todo lado. Para rebocar a parede, tinha uma mina e buscávamos areia branca para fazer reboque e passar no fogão de lenha para ficar branquinho”.
“O primeiro terninho que vesti foi na carreira de arroz larga eu plantei uma carreirinha de algodão no meio e eu vendi o algodão, comprei um paninho e uma tia minha que fez, foi a roupa mais chique que vesti na época”.
Casou-se aos 22 anos com Josefa Lopes Rocha (in memoriam desde 1982). Tiveram dois filhos, Sueli Aparecida Rocha e Laerte Aparecido Rocha, dois netos e um bisneto.
Criou os filhos no sítio e eles também os ajudavam no trabalho. “Com dois alqueires de terra eu dei curso superior para o casal de filho, isso tirando leite, plantando algodão, milho, feijão e muito trabalho”, destaca.
Ele conta um fato de quando comprou seu carro de pau. “Nós a cavalo e eu pude comprar um carrinho de pau para vir na vila passear, comprar as coisas, vinha com carrinho de pau e cavalo. Quando mandei o homem fazer o carrinho parecia que eu estava rico, era mesma coisa que comprar um carro bom. Nós pagávamos imposto, tinha chapa (placa feita de madeira) de Monte Aprazível, Rio Preto, naquele tempo não podia ir na vila com o carrinho sem pagar imposto, colocava uma placa ou no carro ou na canga do boi de guia. Quando falava assim vou La no brioso (Gastão Vidigal), tinha que ter a chapa senão coletava o nosso carro”, afirma.
Lembra também de qual era o nome de Nova Luzitânia antes de se tornar município. “Na praça tinha um campo de bola, onde é a igreja, tinha umas duas ou três casas, um bar. No começo ficou por nome de “cabajá”, tinha uma vendinha e o povo estava bebendo e só tinha um restinho, um homem falou vamos que isso “caba já” e criou aquele nome. Ficou por um tempo até registrar pra Nova Luzitânia”, diz.
Mudou-se para a cidade há 30 anos. “Hoje está bom demais, tudo arrumado, se você tiver dinheiro tem tudo na mão, agora está vindo até comida pronta nos mercados, só chegar e esquentar e está pronto para comer”, compara Lazaro.
“Gosto daqui, já estou com 80 anos aqui no município, rapaz não tem outro lugar melhor, é aqui mesmo”, finaliza Lazaro Rocha.