quarta-feira, 11 de dezembro de 2024   | : :
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Dona Anna, a parteira que realizou 800 partos em Nhandeara


Dona Anna, a parteira que realizou 800 partos em Nhandeara

Anna Pereira, conhecida como “Dona Anna”, nasceu em 27 de abril de 1932 na cidade de José Bonifácio. Morou no município até os 19 anos.

Trabalhou na lavoura em José Bonifácio, tomando conta de gado, porco, tomava conta do quintal e levava merenda na roça.

Casou-se em 07 de fevereiro de 1952 com Demóstenes Alves Pereira, falecido em 1985. Tiveram três filhos, Aldemiro Alves Pereira, José Luiz Pereira e Edson Alves Pereira. Oito netos e quatro bisnetos.

Logo após o casamento, se mudou para Nhandeara. Trabalhou por 34 anos no armazém do esposo.

Com 32 anos de idade começou a trabalhar na maternidade de Nhandeara como parteira. “Estudei um livro do Rio de Janeiro sobre partos e tive acompanhamento médico para aprender”, afirma Anna.

Fazia partos com frequência. Uma das coisas que ela conta é sobre uma noite em que os trabalhos começaram as 18h com um nascimento e quando virou o dia, já eram seis crianças. “Esses são apenas alguns de cerca de 800 partos que já fiz”, destaca. Ela ainda diz que tudo era registrado. “Tinha tudo registrado em um livro, dia, hora do nascimento, nomes dos pais e nome da criança, mas o livro está perdido”.

A parteira se orgulha em falar que fez muitos partos. “Fazia parto desde a mais pobre até a mais rica. Fazia e não cobrava nada. Acompanhei professoras e até mulher de médico no hospital. Um dos nascimentos foi o Marcelo Alves Domingues, filho do farmacêutico Moacir Alves Domingues, um dos melhores de Nhandeara. Um sobrinho nasceu em casa e até colocaram o nome do meu marido como homenagem”, conta ela que trabalhou por 10 anos na maternidade e mais dois fora de lá. A equipe da maternidade era composta por Olga (in memoriam) e Anna e quando a primeira saiu, veio a Agemira (in memoriam).

Dona Anna contou sobre um parto que não gosta de lembrar. “Uma criança que nasceu faltando uma parte do crânio e o cérebro era coberto apenas por uma pele. Ela nasceu viva, o Padre até foi batizar, mas ela sobreviveu apenas por duas horas”, se entristece.

Um fato curioso que Dona Anna lembra é sobre uma mulher que morava perto do Rio São José de Nhandeara. “Todo ano que ela vinha era dois filhos, disse para ela parar, operar, senão ia encher a casa (risos). Ela era bem humilde, teve seis filhos em três partos”, descreve.

Na maternidade os procedimentos eram com a grávida em cima da maca e tudo com equipamentos médicos. Já na área rural enfrentava algumas dificuldades.

“Nos sítios tinha que ir de táxi ou charrete, junto com os filhos pequenos, seja qual for a hora. Eu ia e já levava uma caixa com remédios, fazia o parto em casa, esperava uma hora para ver se não dava hemorragia”, lembra.

Pela dificuldade de locomoção na época, tinha mães que demoravam muito. “Pela demora toda, uns passavam da hora e a criança nascia morta e outras com um mau cheiro danado, também pela demora”, diz.

Bondosa e de bom coração, quando a gestante era muito pobre, ajudava. “Teve uma das mulheres que não tinha nem camisola. Vim na minha casa e peguei a minha camisola toda de renda e dei pra ela”, alegra-se.

Bem quista no município, batizou várias crianças. “Os pais gostavam da gente e chamava para batizar”, orgulha-se.

Hoje, aos 82 anos, recebe visitas de pessoas que querem conhecer a senhora que fez seu parto. Uma das vizinhas, Sandra Tirapele, 47 anos, nasceu nas mãos de Dona Anna e vem todos os dias até sua casa. “Ela fez o parto do meu irmão Sérgio também. Faz 23 anos que a gente mora aqui, conheci ela e sempre a visito, temos muita amizade, é uma ótima pessoa”, disse Sandra.

Porém com toda essa história, muitos partos, o máximo que fez foi de gêmeos. “Sempre quis fazer de três (trigêmeos)”, conclui Anna.

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