quarta-feira, 4 de dezembro de 2024   | : :
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Belmiro Zocal conta um pouco de sua vida de muito trabalho e a paixão por viajar

Personalidade da Semana



Belmiro Zocal conta um pouco de sua vida de muito trabalho e a paixão por viajar

Belmiro Zocal nasceu em 01 de janeiro de 1928, em Monte Aprazível. Foi batizado, crismado e se casou na mesma igreja.

Aos 8 anos já tirava leite, com 10 anos seu pai comprou um sítio em Mirassol e ficou um ano tirando leite e levando de carrinho para o laticínio da cidade. Estudou no ginásio da época, bacharelou em 1944 e fez científico em São José do Rio Preto para entrar na faculdade. Deixou os estudos e foi para São Paulo, onde trabalhou como auxiliar de escritório por dois anos.

Voltou para Monte Aprazível quando seu pai comprou a Fazenda Fortaleza e parou de vez com os estudos. “O ano em que ele comprou a fazenda era toda bruta, não tinha nada, apenas uma casa de tábua, um pouco de roça e o resto era serrado, só mato. Ele comprou uma máquina de esteira e na época (1952) não tinha operador. Veio um instrutor e ficou uma semana aqui comigo, me orientou como trabalhar e cuidar dela. Aprendi e trabalhei 11 anos. Os primeiros foram difíceis, meu pai empreitou 40 alqueires de terra em março e até setembro tinha que estar pronta. Cheguei a trabalhar 18 horas por dia. Desmatava o dia inteiro e depois às 17h ia tombar”, lembra.

Casou-se em 1961 com Paraisia Paiva Zocal. Tiveram cinco filhos, Marcelo, Marco, Marcio, Belmiro Zocal Junior e Vanessa. Sete netos e quatro bisnetos. “Todos os filhos fazem aniversário em janeiro, além de mim, um genro e uma bisneta. Não foi nada programado”, destaca ele.

Depois que saiu da fazenda, trabalhou por dois anos para o Padre Nunes, reitor do colégio Dom Bosco, na fazenda Bahia do Pacu, beira do Rio Piquiri, no Pantanal (MS). “Era o mecânico dele, antes de eu ir para lá trabalhei aqui e ele me chamava para consertar as máquinas dele. Trabalhei uns cinco anos. Minha família ficou aqui, mandava notícia pelo rádio amador todos os dias às 07h. Cheguei a ficar 75 dias sem vim para casa”, conta.

Na época gostava muito de pescar e caçar. “Peixe era liberado, também trouxe arara, papagaio, trouxe até um veadinho filhote e ele foi para o Rio de Janeiro”, diz.

Voltou depois que seu pai autorizou a comprar uma máquina nova. Ajustou um operador bom e começou a trabalhar em Nipoã, quebrava estradas, fazia represa. “A estrada que liga Monte Aprazível a Nipoã fui eu quem abriu com uma máquina de esteira, o prefeito da época era o Lavínio Lucchesi. Arranquei café, roça e pasto. Quando cheguei perto da fazenda do Cassiano, tinha uma roça de café ele não deixou continuar a estrada peguei fiz a curva dei a volta e fui até Nipoã. Depois voltei e fiz a estrada pela propriedade dele. De Nipoã a Nova Brasília fui eu quem abriu também”, afirma ele, que trabalhou na região toda com máquina de esteira.

Trabalhou em Minas Gerais e pegou um serviço em Goiás. “Tinha uma máquina e meia, comprei com meu primo a metade, ele já tinha duas. Pegamos as quatro máquinas e fomos para Goiás, lá eu ganhei muito dinheiro. Trabalhei oito anos, na divisa com Mato Grosso, Araguapaz, Itaberaí, Itauçu, Goianira, depois eu fui para o norte até Porangatu, depois fui para Orizona no leste do Mato Grosso. Levei oito operadores. Depois desse tempo comprei a parte do meu primo, eu fiquei com duas e ele duas”, explica.

Resolveu investir no comércio, mas acabou desistindo e comprou um sítio. “Abri uma casa de material de construção aqui (Monte Aprazível), bem montada, mas meu sócio acabou comigo e com a minha firma. Nós vendemos o estoque depois e nessa época comprei um sitio lá em Frutal (MG) de sociedade com cunhado. O sítio era bruto, 12 alqueires quebrados, era 64 ao todo, metade minha e metade do meu cunhado. Mas nunca tive sorte com sociedade”, disse.

Ofereceu a compra de sua parte para seu cunhado pelo valor que havia pago, mas acabou vendendo para um amigo, que na época lhe pagou R$ 150 mil em dinheiro e uma máquina com a esteira novinha, que valia R$ 300 mil.

Seu pai fez a doação da fazenda aos oito filhos, sendo sete mulheres e Belmiro o único homem. “Os nossos amigos falavam para meu pai dar a sede para mim, pois fui eu quem o ajudou a formar. Ele fez sorteio e eu recebi o pior da fazenda, onde só tinha formiga e cupim. Vendi e fui para o Mato Grosso, comprei 180 alqueires lá, era uma terra do INCRA que foi loteado em pequenas fazendas. No fundo tinha o Rio das Mortes e tinha mais dois córregos, fora as minas que nasciam no meio da fazenda”.

Belmiro investiu em uma serraria. “Formei 60 alqueires, comprei uma serraria e serrei madeira minha por dois anos. Meus meninos trabalhando comigo, mais um sobrinho e um serrador. Tinha formado e aluguei o primeiro ano para o sogro do Maicon (sobrinho), ele pôs 400 cabeças de gado, depois ele vendeu e veio um vizinho e colocou 150 cabeças. Maicon arrumou um serviço na sadia, Marcelo voltou para cá, Marcio foi para são Vicente. Fiquei com o júnior e o serrador, Junior foi trabalhar na Ford, o homem que pós o gado na fazenda fez uma proposta para o serrador que saiu”.

Ele também conta um episódio de quando perdeu parte dos dedos das mãos. “Eu estava fazendo uma carroceria par uma F1000 e estava plainando as madeiras e um caibro lateral, empurrando e a hora que deu num nó minha mão foi na faca e rançou as pontas dos dedos, deixou um fininho e o médico terminou de cortar os quatro dedos da mão esquerda. O da mão direita foi quando estava esquentando as serras circular, vamos tirar balancinho das cercas da divisa e eu restava encostado na máquina circular e os motores todos ligados girando, minha mão foi para serra, a mão perdeu um pedaço do dedo e de outro demorou oito meses para sarar”.

Como ficou só ele e a esposa, resolveu vender tudo e comprar casas de aluguel na cidade. “Só que o comprador que eu vendi tinha vendido uma propriedade e ia receber daí a 30 dias também. A primeira que fui ver era uma chácara de 1 alqueire na Barra do Garças (MT). As bananas que dava lá ninguém aguentava com um cacho, milho, cana, era a melhor terra que já vi. Combinamos de pagar quando eu recebesse. Quando recebi, fui com o comprador primeiro no banco, coloquei o dinheiro lá. Fomos entregar a fazenda, pegamos nossas coisas, posamos e no outro dia viemos embora, deu na televisão que amanhã será feriado bancário, a esposa disse será que o governo não vai tomar todo nosso dinheiro. Chegou no outro dia, não tinha mais nada na minha conta, era época do Collor. O governo começou a devolver depois de 18 meses. Foi devolvendo parcelado, pouquinho e no câmbio das moedas, mas recebi bem menos do que tinha”.

Foi quando fez curso de bijuteria e começou a ganhar dinheiro novamente. “Aprendemos em São Paulo, montamos e vendíamos lá, depois fomos para o Guarujá e vendia também. Fomos para Barra do Garças, alugamos uma casa e começamos a fazer pra valer, tudo bem controlado, cheguei a ter seis vendedoras de bijuteria, dava tudo certinho, porcentagem”. Belmiro ainda mudou de ramo. “Foi quando o Mario, casado com minha sobrinha, montou a fábrica de torneira aqui na entrada de Monte Aprazível e me chamou para trabalhar com ele, vim para cá. Lá fabricava só registro de gaveta e pressão. Ajudava na montagem, trabalhava até sexta e depois carregava o carro de registro ia entregar em Nipoã, José Bonifácio, Adolfo e Mendonça. A fábrica passou lá para cima, fizeram barracão grande, passei a ser entregador, conhecia toda a rota, ia abrindo e vendendo. Desde Santa Catarina para cá, Paraná, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul e Piauí. O Mario disse que tinha abrir no Mato Grosso e perguntou se eu queria ir pra lá, cadastrar todos os clientes e vender, e escolhia se queria ficar como vendedor ou entregador. Fiquei oito meses e cadastrei quase o Estado inteiro. Tinha que sair a semana inteira a mulher tinha que ficar sozinha, desanimei, vim pra cá e continuei como entregador”.

Trabalhou até 2004 quando foi embora para o Piauí e morou por três anos em Bom Jesus. Teve problemas de saúde e os médicos mandavam ir para Teresina há 600 km de distância. Voltou para Monte Aprazível e por aqui ficou.

Com 84 anos montava em um carro e ia dirigindo até Bom Jesus no Piauí, uns 2.000 km para visitar a filha e ainda sobe em cima do telhado para arrumar a antena da TV, mostrando muita disposição. “Agora eu levanto 9 horas, a mulher traz um leite com bolacha na cama, acabo de tomar café com pão na mesa, depois eu vou lá para o meu ateliê. Fico o dia todo e só saio para almoçar e jantar. Tenho uma mini serraria no fundo de casa. Faço cachepô, suporte para vaso de madeira e vendo na cidade. Não saio daqui, tem dois netos meus que estudam na faculdade Dom Bosco no último ano. Agora vou começar a viajar. Gosto de passar o mês lá no Piauí, Mato Grosso”, conclui.

Belmiro ainda mostra uma habilidade manual incrível para cultivar as plantas e qualquer coisa que plantar, brota. Certa vez também consertou molinetes do sobrinho e fabricou as próprias peças que faltava com bronze e metal.

Aposentou em 2006 e pelas contas do advogado totalizou 55 anos de muito trabalho.

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