Nas palavras de Mestre Adelmo, o Mestre Tatu da Anjos Guerreiros de Poloni, explica a diferença entre o capoeirista e o jogador de capoeira.
O Capoeirista e o jogador de capoeira
O primeiro aprende, o segundo treina.
Um ama, o outro gosta.
O capoeirista tece com sua vida a consciência de “ser humano”
e o amor pela liberdade com responsabilidade.
O jogador de capoeira, luta, bate, apanha...transpira.
mas logo descansa e enfadado da lida,
se aposenta...desiste!
O capoeirista é eterno.
O jogador de capoeira, fugaz.
O capoeirista sofre com a injustiça, tem sentimento.
O jogador de capoeira, fútil, não percebe
que o fundamental da vida é a reciprocidade do bem.
O capoeirista é fraco, frágil, resistente, eterno.
O jogador de capoeira é forte, quase invencível,
efêmero, passageiro.
O jogador de capoeira luta anos, para aprender a lição.
O capoeirista aprende a lição e luta para que os outros,
seus camaradas, sigam o caminho.
Um, é eleito pelo reconhecimento
Da comunidade e de seus discípulos.
O outro, pelo temor de seus inimigos e admiradores...
O primeiro é sábio, reflete
o segundo inteligente, pensa.
Um é intuitivo, o outro, instintivo.
O jogador de capoeira, bate, ataca, fere.
O capoeirista, se defende, esquiva, resiste.
O jogador de capoeira se limita a um padrão.
O capoeirista é livre para criar.
A um pertence a criatividade,
ao outro o automatismo.
Um aprende de fora para dentro, passa pela vida.
O outro de dentro para fora, vive.
O primeiro é comandado pelo espírito,
o segundo pelo corpo.
Suas tendências são similares,
suas finalidades antagônicas.
É a sutil diferença,
do belo para o bruto.
Da lágrima para o suor,
da emoção para o leviano.
O capoeirista, traz consigo o compromisso
De 400 anos de história, regada a dor,
sofrimento e do desejo de vencer.
O jogador de capoeira, só de seu tempo de treino,
Inspirado pelo anarquismo e a vã ditadura.
A história clama por reflexão, o treino por pulsação...
Um sente com o coração, com a alma.
O outro sente com o pulso, com as veias.
Um será Mestre.
O outro será corda vermelha ou branca ou preta, sei lá !!!
O primeiro será homem,
o segundo lutador.
Um dominará a sabedoria da vida,
com os seus atos e pensamentos.
O outro viverá da força física,
com a vitalidade, de seus músculos.
A mente é eterna, o corpo, temporário.
O homem tem que crescer, não inchar.
O capoeirista, procura aprender
com as lições da vida, a eterna faculdade.
O jogador de capoeira, precisa de disciplina para se impor.
O primeiro é melancólico, profundo, circunspecto.
O segundo é alegre, confiante, mordaz.
O capoeirista, é um poeta, um filósofo.
O jogador de capoeira...
é só um jogador de capoeira...
Um precisa da fé em Deus.
O outro do incentivo da plateia.
Um é subjetivo, transcendente.
O outro é objetivo, ambíguo.
Em um, a ânsia de aprender cada vez mais, floresce seus dias.
No outro, o desejo de ser o melhor, consome sua vida.
A um, está destinado o domínio da vida
pelo amor e a doação de si mesmo aos outros,
pois quem está vivo, produz vida !
o outro, está entregue ao enfado de viver do cansaço da vida,
na eterna indiferença.
O capoeirista, segue as estrelas e voa.
O jogador de capoeira, se seus próprios passos
e se vacilar, pode tropeçar.
No semblante do primeiro
brilha a força de Zumbi,
a determinação de Bimba,
e a esperança de Pastinha.
No semblante do outro, brilha ofuscado seu próprio reflexo.
Um vê a luz da vida...e sorri.
O outro, só vê sua própria sombra,
prolongada no chão, e sisudo e orgulhoso
do pouco que vê, sarcástico, sorri...
Um está de frente para o sol.
O outro, permanece de costas.
Mas um dia, os dois poderão ser um só.
Primeiro, na expectativa de fluir
o desejo de aprender, do jogador de capoeira.
E da máxima valia, que é a característica de um Mestre,
Aquele profundo desejo, a sabedoria de ensinar.
Um dia os dois serão um só...
E só existiram capoeiristas... Axé!