quinta-feira, 12 de dezembro de 2024   | : :
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Capoeiristas repudiam patente da caxirola

Umas da vergonha da Copa, vender e patentear um instrumento que tem mais de 150 anos



Capoeiristas repudiam patente da caxirola

A ideia de “criar” um instrumento para que os torcedores adotem tanto na Copa das Confederações quanto na Copa do Mundo de 2014 só poderia ter saído de quem não tem relação alguma com o futebol. De quem não frequenta estádios e não entende a verdadeira essência de ser um torcedor. De quem não sabe que a paixão por um clube e por um esporte, e a forma de manifestar isso, não são forjadas, adestradas. E, a mais óbvia observação de todas, de quem enxerga esses eventos apenas como uma chance de faturar uma boa grana.

Porque a tal caxirola, “criada” (de novo, entre aspas) para ser o instrumento oficial das Copas no país, é na verdade uma versão caça-níquel do caxixi, o chocalho usado para acompanhar o berimbau, esse sim um autêntico instrumento da cultura brasileira, mas sem relação alguma com o futebol. Carlinhos Brown, o “inventor” do objeto, aproveitou suas boas relações governamentais para tentar emplacar esse projeto. O raciocínio é simplório: se na Copa da África do Sul teve a vuvuzela, por que não fazer uma versão tupiniqum? E se não emplacar com o pessoal aqui, tem sempre um turista desavisado disposto a pagar a conta.

A vuvuzela é um patrimônio sul-africano. Ao contrário do chocalho de Brown, não foi forjada, e sua utilização só foi permitida pela Fifa após insistentes pedidos da organização da Copa e dos torcedores. É uma manifestação natural, o jeito DELES de torcer. Vá a qualquer jogo pelo Brasil e veja se alguém entra com corneta de plástico ou chocalhos. Com tanta violência e proibições nos estádios o torcedor aparece com a camisa do seu time e olhe lá. Ele sempre vai preferir usar a própria voz do que qualquer instrumento na hora de empurrar a equipe.

Nunca uma atitude tão errada teve efeito tão positivo. Porque se não fosse a reação intempestiva da torcida do Bahia, de atirar caxirolas no campo da Fonte Nova em protesto à derrota para o Vitória, em abril, o veto ao chocalho durante a Copa das Confederações, anunciado esta semana pelo Comitê Organizador da Copa, não ocorreria. Foi um mal que veio para o bem, embora arremessar objetos no campo seja algo estúpido. Imagine algum jogador de qualquer seleção que participe do torneio tomando chuva de caxirolas quando fosse cobrar um escanteio ou comemorar um gol sobre o Brasil. Usando o bordão da moda, imagine na Copa.

Quem está produzindo a caxirola é uma empresa chamada The Marketing Store, autorizada pela Fifa. Brown patenteou o objeto, que será comercializado a R$ 29,90 (capoeiristas artesões confeccionam e vendem a R$2,00). A meta é vender 50 milhões de chocalhos, o que renderia cerca de R$ 1,5 bilhão à empreitada, porém a forma de divisão dos lucros não é conhecida.

Durante evento em Brasília, a presidente Dilma Rousseff, talvez iludida com a ideia vendida a ela sobre o objeto, disse que o tal chocalho “tem um sentido transcendental de cura”. Verdade ou não, é pouco para garantir a sobrevivência da ideia. Brown, alvo de um arremesso coletivo de garrafas d’água de plástico durante uma apresentação no Rock in Rio em 2001, terá de usar mais do que a habilidade com percussão para não ver sua cartada de mestre virar um mico retumbante, o que parece improvável. Durma com o barulho dessas caxirolas, meu camarada.

O primeiro caxirola - para fabricar R$ 29,90

O segundo caxixi - para fabricar menos de R$ 2,00

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