Estudo mostra que 54% dos entrevistados chega ao final do mês sem economizar qualquer quantia. Além disso, quando o assunto é investimento, o
brasileiro ainda tem perfil conservador
Uma pesquisa nacional encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que o consumidor brasileiro não tem o hábito de poupar dinheiro e,
quando poupa, é para consumir ainda mais e não para formar um fundo de reserva. Além disso, o estudo revela que, entre aqueles que têm o hábito de guardar
dinheiro, a maioria tem perfil conservador e prefere investimentos mais seguros, que não ofereçam muitos riscos, como a caderneta de poupança.
Os pesquisadores perguntaram a um grupo de consumidores quantos deles conseguiram poupar alguma quantia no mês anterior. A maioria dos entrevistados (54%)
afirmou que não conseguiu guardar qualquer quantia, 42% disseram que conseguiram juntar alguma coisa e 3% não souberam responder. Para a economista do SPC
Brasil, Luiza Rodrigues, o brasileiro é historicamente conhecido por poupar pouco. “Os motivos que fazem com que o brasileiro tenha uma das menores taxas de
poupança do mundo são culturais. Na China, por exemplo, a taxa de poupança é mais que o dobro da [taxa] brasileira. O chinês poupa 30% do seu salário”,
afirma Luiza.
E o que fariam os entrevistados da pesquisa se recebessem inesperadamente cinco vezes o valor do próprio salário? Nesta situação hipotética, a maior parte
dos consumidores (68%) disse que gastaria o valor reformando a casa, comprando um carro ou fazendo uma viagem, por exemplo. As possibilidades de respostas
eram múltiplas, mas só 49% disseram que aplicariam o dinheiro, 45% disseram que quitariam dívidas, 22% investiriam em algum empreendimento e 9% ajudariam
parentes e amigos.
Na avaliação de Luiza Rodrigues, este tipo de comportamento pode ser parcialmente explicado pelas seguranças assistencial, trabalhista e previdenciária que
o Brasil oferece à população. “Esses recursos contribuem para que o brasileiro se sinta mais seguro e se preocupe menos em economizar para uma emergência”,
explica. Ela dá o exemplo de que no Brasil, até quem não contribui com a previdência social pode receber aposentadoria na velhice, mesmo que com um valor
baixo. “Já isso não ocorre nos Estados Unidos, por exemplo. Lá é preciso contribuir para receber. Dessa forma, formar uma reserva para emergências e ter um
futuro seguro é mais importante do que é no Brasil”, afirma.
Investimentos
Já na hora de fazer investimentos, a maioria dos consumidores tende a apresentar perfis conservadores. De acordo com o estudo do SPC Brasil, a maioria dos
brasileiros (66%) não quer correr riscos e procura investimentos seguros como a caderneta de poupança. Um percentual bem menor, de 16%, disse que aceitaria
correr algum tipo de risco e somente 3% disseram estar dispostos a fazer um investimento mais arriscado. “Outros estudos comprovam que este comportamento se
repete no mundo inteiro, dando a entender que a maioria dos seres humanos realmente prefere situações menos vantajosas, porém mais seguras”, diz Luiza.
Metolodogia
A pesquisa sobre Educação Financeira no Brasil entrevistou 656 consumidores de todas as classes econômicas, das 27 capitais brasileiras. Foram consideradas
apenas as pessoas com mais de 18 anos e que possuem renda própria (excluindo analfabetos). A margem de erro do estudo é de 3,8 pontos percentuais para um
intervalo de confiança de 95%.